“Às vezes, o caminho que idealizamos se desvia completamente da direção que esperávamos, nos surpreendendo com suas reviravoltas imprevisíveis.”
De ambientes de obras barulhentas à delicadeza do atendimento a crianças, Joelma Estevam Ladislau soube transformar desafios em oportunidades. Ao longo de mais de duas décadas de carreira, ela combinou técnica, sensibilidade e uma dedicação incansável, conquistando um espaço de destaque na fonoaudiologia e impactando a vida de muitos com seu trabalho.
Imagine a jovem Joelma, com o diploma recém-conquistado em mãos, sonhando com um consultório cheio de brinquedos terapêuticos e risadas infantis. Ela se via atendendo crianças com trocas na fala, celebrando cada pequena conquista. Mas os ventos da vida a levaram por um caminho inesperado — e transformador.
Ao invés do som suave das palavras infantis, vieram os ruídos das máquinas. Joelma ou a escutar o ronco dos tratores, o estalo dos martelos e o som constante dos equipamentos enquanto circulava por canteiros de obras como os do metrô de São Paulo, a reforma do Aeroporto de Congonhas, o Rodoanel Norte, a Calha do Tietê e a Ponte Estaiada. Sua nova paisagem era feita de concreto, poeira e capacetes — e foi ali que sua jornada profissional começou, cuidando da saúde auditiva de trabalhadores da construção civil e de grandes indústrias.
Formada em 1999 pela Universidade Bandeirantes de São Paulo, Joelma dedicou mais de 13 anos à realização de exames audiológicos em empresas como Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, OAS, Andrade Gutierrez e tantas outras. Seu desafio era claro e urgente: monitorar a audição dos trabalhadores, evitar perdas auditivas e promover qualidade de vida. Também era sua responsabilidade levar informação, ministrando palestras sobre conservação auditiva.
“Foi uma fase intensa”, relembra. “Atuava dentro das obras; geralmente, tínhamos uma sala afastada dos ruídos para atender os trabalhadores. Eram prazos apertados e muita responsabilidade. Mas ali eu aprendi a importância de prestar atenção de verdade em quem a gente cuida.”
Com o tempo, e diante das transformações políticas que afetaram o setor da construção civil, seu foco profissional foi mudando. Enquanto se aprimorava em otoneurologia, em 2017, Joelma foi convidada para integrar uma equipe multiprofissional em uma região nobre de São Paulo, composta por geriatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros especialistas. O convite a levou a uma nova paixão: os atendimentos neurológicos, principalmente voltados ao público idoso.
“Eu aceitei o desafio e me dediquei de corpo e alma. ei muitos finais de semana na Avenida Paulista, estudando, me especializando para entender melhor as necessidades dos idosos com disfagia e outras dificuldades”, conta.
Nesse período, Joelma incorporou novas técnicas aos seus atendimentos, como a laserterapia e a eletroterapia, buscando tornar o tratamento mais eficaz e humanizado. Todo esse conhecimento logo foi essencial também no cuidado com as vítimas da Covid-19, em um momento em que o mundo precisou de mais empatia e acolhimento.
Com o isolamento social e a busca por mais qualidade de vida para as filhas, a família decidiu dar um novo o: encontrar um lugar de aconchego e liberdade. Escolheram Cabreúva (SP), onde Joelma começou a se estabelecer profissionalmente, mantendo laços com São Paulo e, ao mesmo tempo, construindo novos caminhos no interior.
Foi assim que, aos poucos, uma nova escuta se abriu: a da demanda infantil. O que antes era apenas um sonho de início de carreira começou a tomar forma real. Joelma ou a estagiar no atendimento a crianças com TEA em uma clínica multidisciplinar, atualizando-se com os melhores cursos disponíveis na área. O que era novidade se tornou parte de sua rotina, e ela ou a integrar o Centro de Reabilitação da Prefeitura de Cabreúva.
Ali, começou a cuidar de crianças com distúrbios fonológicos, TDL, TEA, TDAH, dislexia e outros desafios ligados ao neurodesenvolvimento.
“No início, foi um desafio. Mas bastou o primeiro contato para eu me encantar. As crianças me trouxeram um olhar mais leve, mais lúdico — e, ao mesmo tempo, mais desafiador.”
Hoje, Joelma se dedica principalmente ao público infantil, mas mantém viva sua conexão com a geriatria. É responsável técnica por uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) na cidade e continua atuando com a mesma sensibilidade que sempre marcou sua prática. Para acompanhar a complexidade dos casos que atende, concluiu em 2023 a formação em neuromodulação pela UNIFESP, ampliando ainda mais seu repertório terapêutico.
Sua história é feita de mudanças — e também de permanências. A paixão pela profissão, a escuta ativa, a dedicação aos detalhes e a busca incansável por evolução profissional são marcas registradas de sua caminhada.
“Cada fase me ensinou algo diferente. Hoje tenho um olhar materno, um olhar atento ao trabalhador, à criança, ao idoso. Cada um exige uma abordagem diferente, mas todos precisam se sentir seguros e respeitados. É isso que faz a diferença no cuidado.”
Mesmo sem seguir um roteiro fixo, Joelma construiu uma trajetória coerente e apaixonada. Feita de escolhas conscientes e da vontade sincera de cuidar do outro.
Hoje, ela tem plena convicção: escolher ser fonoaudióloga foi, sem dúvida, a decisão mais transformadora e gratificante de sua vida